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REDAÇÃO – Criatividade & Objetividade
Opiniões em prosa e poesia - o lado criativo do professor.

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Cadeira para secretária sem braço

Solicitamos cadeira para secretária sem braço. Esta frase não é meramente um exemplo didático, foi retirada da correspondência de uma grande empresa.

Com certeza o solicitante sabia o que estava pedindo. Mas o que dizer da “compreensão” do fornecedor? Um texto empresarial não admite interpretação. Só deve haver uma única mensagem a comunicar. Pior do que o não entendimento é o entendimento não esperado. O não entendimento para o processo, e a dúvida pode ser desfeita; o entendimento não esperado pode fatalmente levar a uma ação equivocada.

A palavra pode ser aliada ou inimiga, mas sem comunicação não existimos. Com base na consagrada afirmativa o homem é um ser social por natureza, pode-se afirmar: solidão é a ausência de comunicação. Na prática tal constatação se reflete no papel importante que a Comunicação tem assumido. Cada vez mais, empresas têm dado destaque à Comunicação, falada ou escrita.

Neste contexto, há um provérbio chinês muito interessante: Se dois homens vêm andando por uma estrada - cada um carregando um pão - e, ao se encontrarem, eles trocam os pães, cada homem vai embora com um. Se dois homens vêm andando por uma estrada - cada um carregando uma idéia - e, ao se encontrarem, eles trocam as idéias, cada homem vai embora com duas.

E é dentro dessa importância, dessa abrangência da Comunicação, que enfrentamos nossas tarefas diárias, entre palavras e sentimentos. Proporcionamos alegrias ou causamos enganos. Abrimos portas, ou nos fechamos incompreendidos. Levamos uma platéia ao delírio, ao silêncio emocionado; ou falamos pra nós mesmos, no vazio do que dizemos.

O que nos faz escutar uma pessoa durante horas? O que não nos permite sequer dar atenção a outras durante poucos minutos? Mais do que as palavras escolhidas, a verdade no que está sendo dito é que nos prende. Palavras sem sentimento nada dizem, são corpos sem alma cuja carne apodrece. Costumo dizer que a Comunicação começa antes da Gramática e vai além dela. A Gramática em si nada significa. Ela deve estar a serviço da Comunicação.

Portanto, a crença no que estamos falando ou escrevendo é a responsável pela empatia com nosso ouvinte ou leitor. Se não acreditamos no que dizemos, de nada adiantam a beleza do vocabulário e a perfeição do texto. Paralelamente, o uso correto da Gramática tornará o texto compreensível.

Existem recomendações importantes na Comunicação. A repetição de palavras ou de ideias deve ser evitada. A repetição de palavras denota vocabulário escasso; a repetição de ideias aparenta falta de conhecimento geral e até mesmo insegurança. Períodos longos também dificultam o entendimento, pois levam ao excesso de vírgulas e de conectivos. Além disso, o foco não pode estar em quem comunica ou no que é comunicado, mas no ouvinte, no leitor.

Seguindo-se tais recomendações terminam os riscos? Ainda não. O texto empresarial, mais do que qualquer outro, requer preparação anterior à escrita. Antes de colocar as palavras no papel, é preciso “perder” um tempo razoável com a organização: relacionar os assuntos; selecionar os realmente imprescindíveis; juntar os afins; e, finalmente, estabelecer prioridades, definindo a ordem em que deverão ser escritos. Só então desenvolver a escrita. O resultado final será, com certeza, um texto fácil de ser entendido. Praticar este método é uma das ferramentas de um bom curso de Redação.

Infelizmente sempre houve uma grande distância entre o que estudamos na Língua Portuguesa e aquilo que utilizamos no dia a dia. Perdemos muito tempo de nossas vidas decorando regras e recebendo muitas vezes informações desnecessárias ou erradas. Ocupamos nossas mentes com o menos importante, deixando de lado o essencial: o relacionamento das palavras, a estrutura da frase.

E havia os famosos “macetes”, os chamados facilitadores do aprendizado. Muitos dão resultado. Alguns, entretanto, são danosos. - Respirou, bota vírgula! Quantos de nós não tivemos tal orientação do professor? Isto é um enorme equívoco. A pontuação não é uma questão respiratória, é uma questão lógica. A pontuação é uma questão tão lógica que é capaz de mudar significados. Uma pequena vírgula pode fazer uma grande diferença: Encontramos seu irmão mais velho. Encontramos seu irmão, mais velho.

Todos podem melhorar seu texto, ganhar segurança e dominar a Comunicação. A questão é o foco. Quando olhamos na direção certa, tudo fica mais fácil. A Língua Portuguesa não é difícil, a forma de lidar com ela é que a torna distante. A importância não está nos nomes, e sim nas relações. Palavras sozinhas podem não dizer nada, ou até dizer demais. Quando relacionadas ganham vida, tornam-se mensagem, que deve ser clara e objetiva. E isso não se consegue decorando nomes ou regras, mas praticando, compreendendo e vivendo as estruturas e, consequentemente, o texto.

Comunicamos mal porque não estamos bem? Ou não estamos bem porque comunicamos mal? Não sei... E talvez nunca saiba. Mas, depois de tantos anos lidando com o Ensino, e por isso aprendendo, de uma coisa eu sei: Não há um caminho que leva à Comunicação, a Comunicação é o caminho.

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Colcha de retalhos

A noite nunca está sozinha
A noite sempre põe em dia
Nossas melhores e piores lembranças
A noite é o choro de criança que não para
O zumbido de inseto ao redor da sua cabeça
A noite é uma estória que ninguém mais conta
Memória virtual pra que você não esqueça

A noite tem os seus mistérios
A noite atravessa paredes com seus olhos de gata
Guarda o céu com a luz das estrelas
E segredos em seus travesseiros
A noite é uma cidade que adormece em qualquer canto
É uma colcha de retalhos de sonhos verdadeiros

A noite nunca teve modos
A noite sempre teve certeza da nossa fragilidade noturna
Sem a menor cerimônia nos domina
Nos ensina mas não dá conselhos
A noite é um baile de pessoas e desejos
Que vão tirando as máscaras diante dos espelhos

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Da Cidade das Serestas ao Bloco Vai-Quem-Vem

Muito já se falou sobre Conservatória, sua simplicidade, seus encantos, suas casas com nome de música, a serenata que corre a cidade durante a madrugada... Não sou o primeiro, nem serei o último, a se emocionar com a paz e a tranquilidade desse lugar simplesmente encantado, ou encantadoramente simples. Perdi a conta de quantas vezes estive por lá, a primeira em janeiro de 1983.

Desde então, durante mais de 15 anos passei férias (ou parte delas) no Hotel Fazenda Vilarejo. Lá, criamos uma família, filhos cresceram juntos. Os meus mais velhos desde 7 e 5 anos de idade; o mais novo, desde a barriga.

Hoje somos um grande grupo - se contarmos todos os cúmplices, passamos de 300 - que se encontra no Rio de Janeiro. Desde a turma que tem hoje por volta de 12 anos até os que já passaram dos 30, além de todos os pais. Nós nos encontramos, todos os anos, no Carnaval de Conservatória, mais precisamente no Carnaval do Hotel Vilarejo. 

A culpa é de Lili e João, desse casal anfitrião maravilhoso. Sua família se juntou a de todos nós, desde que tudo começou. Sem perder a simplicidade, sem esmorecer na luta, cultivando a humildade e a sabedoria de quem trabalha – e muito – pondo o coração no dia a dia.

Em 1995, fundamos o nosso bloco, o Vai-Quem-Vem. Com orgulho dizemos que nosso bloco não cabe na avenida. Para que o final do bloco chegue à praça da apoteose de lá, é preciso seguir em frente, muito além do fim da rua. Porém, com muito mais orgulho podemos dizer que, se nosso bloco não cabe na avenida, “tanto riso, tanta alegria” não cabem dentro de nós.   

Não há competição, não há jurados, notas, concorrentes ou inimigos. Apenas a alegria de pôr os pés na avenida e a boca no mundo. Cantando os sambas que, no fim das contas, falam de nós mesmos, de tudo que vivemos nesses anos todos.  Coube a mim fazer as letras dos nossos enredos, emolduradas por melodias sempre marcantes: duas delas com Ruy Quaresma – meu parceiro musical há mais de 40 anos; treze em parceria com Lúcia e Orlando – amigos e parceiros de samba e de Vilarejo desde o início.

Conservatória e o Vilarejo estão lá, à espera de quem quiser sorrir. Nosso Carnaval continua, sempre pronto a receber mais um folião que queira curtir. Os sambas estão no meu Blog, à espera de quem quiser ouvir.

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De volta à civilização?

Quinze dias no meio do mato. Mato Grosso afora, coração adentro. Internet, telefone, televisão me acompanharam até Barra do Garças. E lá ficaram, enquanto seguia pela Serra do Roncador, durante mais 330 quilômetros.

Meu objetivo aqui não é contar uma história, descrever paisagens ou simplesmente confirmar como a Natureza é perfeita e linda. Quero falar é do ser humano e seu comportamento, obviamente falando por mim.

Em contato com a Natureza, longe da chamada civilização, nossos sentidos são aguçados. Somos capazes de dizer sem falar; nossos ouvidos se tornam mais atentos, a ponto de ouvirmos o silêncio. Nosso corpo descobre que precisa de muito menos pra sobreviver, nossa mente se acalma justamente por permanecer apenas no hoje.

Por conta do ambiente externo e interno, a paz se instala em nós. Percebemos, então, que precisamos de muito pouco para alcançar a felicidade. As “necessidades” impostas pelo dia a dia é que nos tornam infelizes.

Discutir, comprar, investir, lucrar, ganhar ou perder... Verbos inconjugáveis. A harmonia interna de cada um se traduz na harmonia do grupo - ou seria o contrário? – e cada atitude é intensa e duradoura. Todo momento é o certo, não há pressa porque só interessa o agora.

De volta à Cidade Maravilhosa, diante do meu computador, o dicionário me diz “civilizar-se = tornar-se cortês, bem-educado”. E meu coração pergunta à minha mente: voltei à ou da civilização?

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Mesa de bar

Na mesa de um bar sempre rola de tudo
Sonhos, manias, desejos e planos
Ou a alma de fora, ou calça de veludo
Há ouvidos e tempo pra lamentar os enganos

De repente a última promessa
A velha estória que não termina
O sujeito sem jeito que não tem pressa
E também não conversa nem sai de cima

As soluções dos problemas do mundo
O cara de Caras, a máscara que corrói
Do gênio pós-moderno ao eterno vagabundo
Do tolo ao louco, do bandido ao herói

A noite é uma ilha que não tem dono
Cercada de poetas por todos os lados
A felicidade por um fio ou pelo sono
À espera da manhã, entre sambas e fados

Não se pode duvidar
Das coisas que são ditas na mesa de um bar
Não se pode duvidar
São mágicas e bonitas
As coisas que são ditas na mesa de um bar

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Simplesmente um casal - Receita de felicidade

Ser feliz enquanto há tempo, ser semente enquanto há chuva
Caravela enquanto há vento... Ser o amor que tudo muda
Ser a paz por um mundo melhor, ser capaz de dar seu coração
Ser o sim quando o outro é o não
Pra equilibrar a vida, pra curar a ferida... E renascer no perdão

Ser a calma quando a alma do outro se agita
Ser a espera infinita, se há no outro a pressa e a imperfeição
Ser o riso no rosto, se por algum desgosto
O outro não anda disposto a encarar o cotidiano

Ser o minuto intenso, se depois de alguns anos
Por algum momento o outro anda propenso ao tédio e à solidão
Ser a atitude sensata, ter a medida exata
Da distância que os separa, pra tentar dia a dia a aproximação
Ser a doce loucura, quando o outro se perde em juras
Ser o bálsamo até a cura de toda desatenção

Nunca dizer somos um... Tipo lugar comum
Pois, quando dois chegam a ser um, um dos dois deixou de ser
Ser simplesmente um casal... Essa coisa que dizem banal, mas tão difícil de ser

Ser simplesmente a verdade
Ser esse encontro divino, que faz o mal pequenino
O rosto inundado de riso, o coração sem maldade ou juízo
Pronto pra felicidade

Ser uma luz em cada canto, cada dia feriado ou dia santo
Pra que um dia sejam tantos, felizes como vocês

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Última mente

Eu tenho andado muito musical ultimamente.
Não sei por que cargas d’água
Tenho afogado minhas mágoas
Ao som de poetas, músicos e bêbados permanentes.
A música abre meus caminhos, ilumina meus sonhos
Corre em minhas veias.
Na rua o menino morre de frio, sem cobertor
Com fome, sem meias.

Do frio da rua aos pés na lua, a solidão é a mesma.
É a lesma, nojenta e lenta, que atormenta o ofício
Que leva ao tédio e ao vício.

Eu deveria agradecer, diante da música
Por ter ouvidos para ouvir.
E é o que acabo fazendo invariavelmente.
Aliás, é o mínimo que posso fazer.
Mas o que posso fazer?

Se em todo canto ouço o canto da sereia
Se me atrapalho com traços, troços e teias
Se o atalho que me oferecem quase sempre é desonesto.
Afinal, no final a culpa sempre é dos outros ou do resto...
E eu me perdoo dando esmolas no primeiro sinal.

Eu venho achando tudo normal ultimamente.
Desde a bala perdida ao corpo fechado
Da falta de assunto ao lixo amontoado
Da falta de procura ao excesso de oferta
Da falta de cultura à TV aberta
Da esperança que se tem ao voto que não se acerta.

Eu tenho andado muito emocionado ultimamente
E de emoção o meu coração se alimenta.
Lá fora, a chuva fria é de cortar o coração...
Dito assim, à luz do dia, como poesia, não parece ruim
Mas cortar mesmo o coração
É descobrir o vazio por dentro
É escancarar a falta de sentimento
De corações ocos
De quem se importa muito pouco com a vida alheia.
Mas é a música, é o canto das sereias...

A cada estação da vida, mais cheio o trem
Mais vazio o estômago.
Dentro do meu carro blindado
Atrás das grades do meu jardim
Estou bem alimentado.
Sentado à mesa, vazia, além de mim
Tomo o chá das cinco.
À moda antiga, o rádio toca:
A lua furando o nosso zinco
E eu nem me toco que faço parte
Desse estranho festival.

Eu tenho andado atrás de um ideal.
O sujeito tem de ter um objetivo na vida!
O que vim fazer por aqui?
Essa história de não tô nem aí
Tem validade...
Depois de certa idade
É sempre mais difícil dizer sim ou não.
É quando o medo inventa o talvez.

Eu queria pelo menos uma vez
Olhar no espelho e, olho no olho, me dizer:
Missão cumprida.
Enquanto isso não acontece
Vou levando a vida...
O coração finge que não vê, ou esquece.

E eu sei por que cargas d’água
Vou afogando minhas mágoas no bloco dos eus sozinhos...
Na falta de caminhos ou de crença
Não importa de que lado, contanto que se vença
Nesse mar de gente, sigo em frente
Pecando o pior dos pecados
A indiferença.

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